“Você ainda não entende a humanidade”. É nesse tom ameaçador que, cada vez mais, descobrimos do que os visitantes são capazes. A série poderia ser um completo clichê por se tratar de um remake ou até mesmo um emaranhado de inovações sem pé nem cabeça, mas o pouco que mostrou, revela que a aposta da ABC se encontra em um thriller alucinante composto de uma trilha sonora acertada, atuações marcantes e uma trama, por mais improvável que pareça, instigante.
Ainda que haja críticas em relação ao fato de terem revelado muita informação no episódio piloto, continuo confiante que essa foi a decisão mais acertada de todo o roteiro da série, pois se não tivéssemos a revelação de que os Visitors não eram pacíficos como dizem ser, e se Ryan não tivesse se revelado um rebelde, jamais teríamos a sensação que pairou durante todo esse segundo episódio e que foi o responsável por sua excelência: a incerteza de quem é confiável e quem não é.
Ao sabermos da existência de “mocinhos” e “bandidos” entre os terráqueos e também entre os alienígenas, confiar em alguém tornou-se uma tarefa árdua que exige das pessoas a mais inexata ferramenta: o instinto. Erica não se mostrou confortável tendo de confiar apenas em seu instinto, mas ainda assim foi aquela que melhor lidou com o fato de ter que desconfiar de todos. Muitas pessoas não seriam capazes de manter o raciocínio no lugar e agir normalmente no ambiente de trabalho como a personagem fez ao longo de todo o episódio. Se sua parceria e amizade de 7 anos com Dale não foram o suficiente para conhecê-lo, quem dirá momentos passageiros com as demais pessoas ao seu redor.
Elizabeth Micthel está com uma atuação bem pontuada, repleta de emoção nos momentos necessários, entre elas a cena do banheiro em que recebe a ligação e todas as outras em que dividiu a tela com Gretsch. A princípio, Erica se mostra mais apavorada pelo fato de ter seu filho ao lado dos alienígenas do que com o fator terrorismo em si; e não é para menos, já que o garoto vem contando uma mentira atrás da outra e se aproximando cada vez mais do lado errado.
A presença de Laura Vandervoort sempre será agradável por sua beleza, mas é incrível como seu trabalho nesta série, no papel de Lisa, já superou o que a atriz realizou em Smallville (lembrando que foram apenas dois episódios e em cenas extremamente rápidas). Mesmo com pouco tempo em cena, Lisa já conseguiu me conquistar e ela ter revelado que a sugestão de Ty ser um embaixador da paz partiu de sua pessoa, por mais que parecesse jogada estratégica, conseguiu me colocar uma pulga atrás da orelha, fazendo com que eu me pergunte se não há a possibilidade dela se mostrar uma rebelde com o passar do tempo.
Em se tratando de rebeldes, Ryan tem se mostrado um alienígena um tanto quanto fraco para enfrentar sua própria raça; seu outro amigo rebelde, por sua vez, ganhou pontos por se mostrar desconfiado e precavido, pois em seu lugar eu também teria feito de tudo para desaparecer quando um “deles” batesse em minha porta. Outra crítica que faço em relação a Ryan é como ele vem agindo com sua namorada; acho que a decisão mais acertada seria ele revelar sua real identidade e deixar que ela decidisse de que lado quer ficar, pois imaginar que a mulher aceitará ficar ao seu lado independente da situação, além de ser egoísta, vai no sentido contrário de sua crença: que todos são iguais e merecem trilhar seus próprios caminhos sem influência nem pressão.
Padre Jack (não poderiam ter escolhido outro nome para ele?) tem se mostrado o personagem mais conflituoso e mais interessante da série uma vez que tomar partido na causa da “Resistência” pode e vai colocá-lo em uma situação bem complicada, tanto com o padre superior quanto com os fiéis, já que ambos estão cegamente apaixonados e hipnotizados com a chegada dos visitantes. Jack ainda está vivendo uma grande divisão entre ficar em cima do muro ou tomar as dores daqueles que foram mortos no armazém; e se sua decisão permanecer como no fim do episódio, acredito que ele não só abandonará a batina, como também tem grandes chances de pecar ao lado da agente do FBI. A química dos dois é mágica e vê-los juntos como amigos tem me agradado muito. Pode até ser que isso venha a se tornar um romance, mas confesso que estou rezando para que isso não aconteça prematuramente. A inclusão de um novo romance no início da jornada de V pode vir a prejudicar um pouco o rótulo de thriller que venho enxergando ao longo destes dois exemplares.
É interessante como a séria de alguma forma também interage com os telespectadores em alguns momentos e digo isso quando vemos Erica chamando a polícia para o armazém e pasmem, o número do tal galpão é “4400” (agora sim eu entendi porque Padre Jack anda tão apreensivo. Seu medo na verdade é a volta de Isabelle Tyler).
Para aqueles que não estão acompanhando meu raciocínio, 4400 é o nome de uma série que tinha Joel Gretsch no elenco principal e que também trabalhava com esse tema sci-fi no qual 4400 pessoas são abduzidas e voltam com poderes; Isabelle Tyler é filha de uma das 4400 e possui inúmeros poderes inexplicáveis, sendo que no final da 1ª temporada ela transformou-se de um bebê diretamente para uma mulher de 20 e poucos anos.
Mas voltando ao comentário da série, mais especificamente sobre os visitantes, confesso que a cada episódio fico com mais medo das caras de Anna e de como ela pode ser assustadora, mesmo nos diálogos mais simples e rotineiros. Aproveitando o comentário, confirmamos que Marcus é somente um subordinado de Anna e realiza todas as tarefas sem pestanejar; fomos apresentados, ainda, ao sistema de tortura (ou seria investigação) dos visitantes quando desejam obter informações. Me agrada muito saber que o que difere os extra-terrestres de nós terráqueos é somente a inteligência e a aplicação da mesma na tecnologia, pois torna a batalha entre as partes um pouco mais justa e verossímil.
Mas de tudo o que nos foi mostrado, a tentativa de Chad em manipular a situação com Anna foi a mais interessante, considerando que sabemos as chances dele vencer esta batalha, na qual a manipulação é praticamente o nome do meio da líder dos visitantes. O âncora realmente acredita que possa assumir a liderança neste relacionamento que possui com os alienígenas, mas nem precisamos nos preocupar em questionar isso uma vez que Anna simplesmente esboçou um sorriso de lado como resposta. Foi praticamente um “Você quer jogar pesado? Tudo bem, eu sei fazer isso”. Minha angústia para ver qual será o troco que ela dará ao repórter está me matando neste exato momento e minha criatividade para as formas de se fazer isso está a mil.
Resumindo em miúdos, V está se revelando uma grande aposta tanto para aqueles que querem se divertir, quanto para aqueles que estão a procura de bom suspense repleto de conflitos, perguntas e ação. A abordagem sócio-política, mesmo que sutil, continua presente e acredito que boa parcela da qualidade do programa se encontra neste tipo de visão. As cenas de ação não roubaram o cenário desta vez, mas se o ritmo continuar viciante como está, uma boa ação só fará idolatrarmos ainda mais esta série que já está sendo considerada por muitos como a melhor estréia desta temporada.
Qual a opinião dos demais telespectadores? Ryan deve revelar sua identidade para sua namorada? Como Dale voltará a vida dos terráqueos agora que sua parceira Evans conhece sua real forma? Lisa está manipulando Tyler a relação deles é sincera? Jack conseguirá abraçar a causa da “Resistência” sem deixar interferir em sua crença? E como Erica lidará com a situação assim que descobrir que seu próprio filho tem se bandeado para o lado negro da força?
PS: Mais alguém acha que o Padre superior é um visitante?
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